O nome R. Kelly pode não lhe dizer nada, mas se ouvir a canção “I Believe I Can Fly” provavelmente isso irá mudar:
O autor desta canção, Robert, mais conhecido por R. Kelly, foi acusado de abuso sexual de menores e de reter várias mulheres em sua casa. Esta não é a primeira vez que enfrenta acusações semelhantes.
DA POBREZA À FAMA
Kelly nasceu num bairro pobre de Chicago nos anos 70. Teve 3 irmãos e, segundo o seu próprio relato, teve uma infância difícil. Em 2012 publicou um livro autobiográfico no qual disse ter sido abusado durante grande parte da sua infância. “Não quero acusar ninguém, mas sim, fui abusado desde os 7 anos de idade até talvez aos 13 ou 14”, explicou ele numa entrevista com o anfitrião Travis Smiley. Isto, explicou ele, “despertou as minhas hormonas muito mais cedo do que deveria ter despertado. Isso despertou a minha curiosidade e tornei-me uma pessoa sexual muito mais cedo na vida”. Nessa altura, já tinha atingido o topo da sua carreira artística.
Os seus dotes musicais sempre se destacaram, desde a altura em que participou num espetáculo de talentos em 1989 com três concorrentes e roubou todas as atenções. A partir daí a sua carreira foi imparável: desde as produções para Michael Jackson até ao pedido de Michael Jordan para compor a banda sonora do Space Jam, o que o levou a ganhar 3 prémios Grammy e a colocá-lo no topo das celebridades.
PREDADOR
A verdade é que as acusações de abuso não são uma novidade, e em 2008 ele teve de enfrentar um julgamento do qual saiu vitorioso. Foi então acusado de abuso sexual de crianças, quando uma gravação de 2002, sobre ele alegadamente ter tido relações sexuais com uma rapariga de 13 anos, veio a público. R. Kelly defendeu-se dizendo que não era ele no vídeo, mas sim o seu irmão. No entanto, na altura do julgamento, que tinha sido adiado por 6 anos (uma situação que funcionou contra a vítima), os pais da vítima recuaram e disseram que não era a sua filha que estava no vídeo. R. Kelly foi libertado.
Desde então, tem recebido algumas acusações isoladas que foram silenciadas ao longo do tempo pelo peso da sua própria fama, mas agora a situação mudou.
Foi lançado um documentário Surviving R. Kelly, no qual várias mulheres contam de que forma o cantor abusou delas durante anos. A série, narra, através de 10 das vítimas, como R. Kelly se aproveitou da sua fama e da sua posição de poder para “recrutar” inúmeras mulheres que queriam ser cantoras ou dançarinas, sendo que na realidade acabou apenas por abusar delas.
Após o lançamento do documentário, nos Estados Unidos, várias personalidades da indústria musical decidiram apoiar publicamente as acusações e mostrar a sua repulsa para com R. Kelly. Cantores como Lady Gaga e Celine Dion retiraram canções em que colaboraram com ele de plataformas digitais. Até o famoso cantor John Legend fez a sua declaração para o documentário.
I stand by anyone who has ever been the victim of sexual assault: pic.twitter.com/67sz4WpV3i
— Lady Gaga (@ladygaga) 10 de enero de 2019
Durante a emissão de Surviving R. Kelly, pessoas como Cara Delevigne falaram:
REPÚDIO
As empresas industriais também se manifestaram e agiram. O Spotify removeu todas as suas canções da plataforma, e a Sony Music, que tinha planeado lançar um novo álbum R. Kelly num futuro próximo, rescindiu o contrato. Vários concertos foram cancelados nos Estados Unidos.
Após as seis semanas de investigação e julgamento, Kelly foi considerado culpado de crime organizado e tráfico sexual.
Com isto, poderá passar várias décadas na prisão. Kelly não testemunhou durante o julgamento e está à espera da sentença.