Na última segunda-feira dia 16 de novembro estreou a nova série original e exclusiva do AMC: Into the Badlands, uma série multi-género de artes marciais inspirada na clásica fábula chinesa ‘Journey To The West’. Para que nos conte a sua opinião sobre esta arte, entrevistamos o espanhol Alex Mieza, (de nome taoísta Zī Xiǎo 资晓), campeão do mundo de Kung Fu na sua modalidade de luta e diretor da Escola Laoshan.
Com uma vasta experiência em diferentes disciplinas orientais, Alex enveredou pelos estudos das artes marciais chinesas em 1997 e desde então tem treinado com reconhecidos mestres como Yuan Xiugang (袁修刚), Yu Liting (余理庭) e David Conches, (余理庭), entre outros, somando importantes títulos e ganhando várias competições internacionais e campeonatos do mundo.
Como temos visto, as artes marciais, há tanto distantes da televisão internacional, têm um papel essencial em Into the Badlands, e veremos a personagem principal, Sunny (Daniel Wu), arriscando a sua vida para defender o seu barão, Quinn (Martin Csokas), demonstrando grandes habilidades das mesmas. A série conta com 13 câmaras que gravam em simultâneo em vez das duas que são habitualmente utilizadas numa produção convencional, para transmitir toda a adrenalina das sequências de luta. Into the Badlands, para além de ter excelentes personagens e enredo que se vão desenvolvendo de uma forma surpreendente ao longo da temporada, conta também com cenas de ação minuciosamente planeadas pelo reconhecido coreógrafo de “O Tigre e o Dragão”, Master Dee Dee.
Alex com a Espada Jian
1.- As artes marciais têm um papel fundamental em Into the Badlands. O que achas que uma série deste género deve ter?
Para mim uma série de artes marciais deve conter tanto no seu guião como nas suas personagens um reflexo dos princípios éticos fundamentais das artes marciais, pois geralmente no ecrã são-nos apresentadas do seu ponto de vista mais violento, apesar de terem uma outra parte extremamente importante: o cultivo e crescimento pessoal que escondem a sua prática.
2.- Os quatro últimos episódios da série têm nomes relacionados com movimentos de artes marciais. Conhece-los?
- A Cegonha Branca Abre as Asas (Episódio 3): A técnica da Cegonha Branca Abre as Asas ou Baihe Liang Chi (百鹤亮翅) é uma das técnicas clássicas que melhor representam o estilo Taijiquan (太极拳), mais conhecido como Tai Chi. É uma técnica de defesa pessoal que pode funcionar tanto para bloquear um ataque como para deslocar um ombro, mas por outro lado é também uma técnica de Qigong (trabalho energético) para fortalecer o coração.
A Cegonha Branca Abre as Asas
- Dois Tigres Subjugam Dragões (Episódio 4): A técnica do Tigre subjugando o Dragão ou Erhu Xianglong (二虎降龍) é uma das técnicas mais usadas para bloquear técnicas de pontapés. Esta frase representa dois conceitos muito importantes no trabalho do cultivo interno das artes marciais. O Dragão, representado neste caso através do movimento do pontapé, representa a energia do espírito ou Shen (神) enquanto que o Tigre representa a energia interna ou Qi (氣), a força e o vigor necessários para bloquear um ataque tão feroz como o de um Dragão ou um pontapé. Estes dois conceitos usam-se muito nas artes internas para explicar a importância de conseguir controlar a energia interna para poder controlar ou apaziguar a mente ou espirito.
- A Cobra Chega Rastejando (Episódio 5): A técnica da Cobra que rasteja o Xia Shi (下势) é outra das técnicas clássicas mais representativas do estilo de Taijiquan (太极拳) ou Tai Chi, bem como de outros estilos do norte da China. É uma das posturas mais complexas de fazer devido à força e flexibilidade exigidas às pernas. A nível energético ativa a energia que circula entre os eixos dos rins, baço e fígado.
A Cobra Chega Rastejando
- Mão de Cinco Venenos (Episódio 6): A técnica da Mão de cinco venenos ou Wu Dushou (五毒手), é una técnica de fortalecimiento e endurecimiento da palma da mão através do golpe contínuo com a palma em diferentes materiais como por exemplo sacos de areia. É um dos mais conhecidos métodos de Qigong duro. Neste contexto, trabalhava-se para tornar a palma da mão numa arma eficaz.
3.- Conhecias Daniel Wu?
Conhecia-o dos filmes Taichi e Taichi Hero.
4.- Porque é que decidiste dedicar-te ao mundo das artes marciais? Houve algum filme ou ator que influenciasse a tua decisão?
Iniciei-me nas artes marciais em pequeno porque os meus pais levaram-me a mim e aos meus irmãos ao Judo durante anos. Depois disso, apenas eu fiquei com curiosidade de continuar a investigar estas artes. Certamente que muita da minha busca pelas artes marciais chinesas se deveu à influência dos filmes antigos de Jackie Chan.
5.- Bruce Lee, Jackie Chan, Jet Li ou Donnie Yen, se tivesses que escolher um destes quatro grandes atores do género, qual escolherias e porquê?
Acho que cada uma destas personalidades contribuiu à sua maneira para a expansão das artes marciais chinesas pelo mundo através do cinema. Eu pessoalmente acho que o mais completo na sua prática marcial é Donnie Yen, porque é o que mais trabalho as artes marciais chinesas tradicionais.
6.- Que disciplina de artes marciais praticas? Quanto tempo do teu dia-a-dia lhes dedicas?
Trabalho várias disciplinas das artes marciais chinesas tradicionais como por exemplo as artes de Wudang ou Wudang Quan (武当拳), entre as que se destacam os estilos de Taijiquan (太极拳) e Liangyiquan (兩儀拳), também trabalho estilos mais externos como o Tanglangquan (螳螂拳) ou o Bajiquan (八極拳). Pratico 6 dias por semana uma média de 5 horas por dia.
7.- Master Dee Dee foi encarregue de coordenar todos os movimentos em filmes de artes marciais influentes nos últimos 15 anos, e agora fá-lo também em Into the Badlands. O que achas do seu trabalho?
É uma referência como coreógrafo nos filmes de artes marciais chinesas, realizou cenas de ação em grandes filmes que fazem parte da história do cinema das artes marciais.
Com o Mestro Yuan Xiugang
8.- Nesta série as artes marciais são utilizadas para o combate e defesa, e historicamente foi para este fim que nasceram. Porque pensas que ainda se mantém? Trata-se de algo mais espiritual ou um desporto?
As artes marciais nasceram sem dúvida pela necessidade de defesa e de aprender as artes de combate com diferentes fins e objetivos, foram muito desenvolvidas em outras épocas nas quais imperava a necessidade de sobrevivência.
As de hoje em dia têm por sua vez diversos objetivos, por um lado a aprendizagem do controlo do corpo humano e das suas capacidades perante situações de defesa pessoal, pois através delas podemos conhecer os nossos limites físicos e emocionais. Através das artes marciais aprendemos a controlar uma situação de perigo através do equilibrio emocional e o controlo da agressividade já que nos oferece o conhecimento da dor e da gravidade de lesões que se podem produzir numa situação real de combate.
Esse conhecimento e esse temperamento frente a situações adversas de grande calibre dão-nos a capacidade de manter uma mente mais calma e serena para enfrentar os problemas diários com que lidamos.
Por outro lado, a prática de artes marciais oferece-nos a possibilidade de aumentar as nossas capacidades físicas para manter o corpo num estado de forma física excelente e um uma boa saúde e equilíbrio.
9.- O que significam para ti as artes marciais e o que é que trazem à tua vida?
No meu caso as artes marciais dão um sentido à minha vida, através delas desenvolvi muitos aspetos do meu corpo e mente que me ajudaram a crescer física e espiritualmente ao longo da minha vida, e certamente assim continuará. Para além disso, decidi há tempos dedicar-me exclusivamente de corpo e alma ao ensino e difusão dos benefícios destas práticas. Hoje posso assegurar que com os anos que levo a ensinar tenho sentido uma grande satisfação em ver quanto é que estas artes podem ajudar os estudantes que escolheram este caminho a desenvolver as suas qualidades e potenciá-las para que se tornem melhores pessoas.
Se és um apaixonado das artes marciais como Alex Mieza, não percas os novos episódios de Into the Badlands todas as segundas-feiras às 23:15 no canal AMC!
