Nos degraus do Memorial Lincoln em Washington, DC, o movimento pelos direitos civis dos afro-americanos atingiu o seu ponto alto quando Martin Luther King, Jr. falou para cerca de 250 mil pessoas presentes na “Marcha sobre Washington por Empregos e Liberdade” neste dia, no ano de 1963. Os manifestantes – pretos e brancos, pobres e ricos – reuniram-se na capital do país para exigir direitos de voto e igualdade de oportunidades para os afro-americanos e apelar ao fim da segregação racial e a discriminação.
A manifestação pacífica foi a maior alguma vez ocorrida na capital e teve King como o seu último orador. Com a estátua de Abraham Lincoln – o Grande Emancipador – como pano de fundo, King usou os seus talentos retóricos que tinha desenvolvido como pastor batista para demonstrar, como ele próprio dizia, que “o negro ainda não era livre”. King também realçou a importância da ação continuada e do protesto não violento. Ao chegar ao fim do texto que tinha preparado (pois, tal como outros oradores daquele dia, King só dispunha de sete minutos para falar), King foi dominado pelo momento e começou a discursar de improviso.
King disse à multidão silenciosa: “Voltem para o Mississípi, voltem para o Alabama, voltem para a Carolina do Sul, voltem para a Geórgia, voltem para o Louisiana, voltem para as ruas sujas e guetos das nossas cidades do norte sabendo que, de alguma maneira, esta situação pode e será mudada. Não se deixem cair no vale de desespero!”. Continuando, King começou o refrão do que se tornaria num dos discursos mais conhecidos da história dos EUA, perdendo apenas para o de Lincoln em 1863, que ficou conhecido como “Gettysburg Address”:
“Eu tenho um sonho”, disse ele à multidão, “que, um dia, esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado da sua crença. Consideramos estas verdades como autoevidentes, que todos os homens são criados iguais. Eu tenho um sonho que, um dia, nas colinas vermelhas da Geórgia, os filhos de antigos escravos e os filhos de antigos proprietários de escravos poderão sentar-se lado a lado na mesa da fraternidade. Eu tenho um sonho que, um dia, até mesmo no estado de Mississípi, um estado que transpira com o calor da injustiça, que transpira com o calor de opressão, será transformado num oásis de liberdade e justiça. Eu tenho um sonho que as minhas quatro pequenas crianças vão, um dia, viver numa nação onde elas não serão julgadas pela cor da sua pele, mas sim pelo seu caráter. Eu tenho um sonho hoje. ”
King terminou o seu discurso de 16 minutos com a sua visão futurista do resultado da harmonia racial: “Quando nós permitirmos o sino da liberdade, quando nós deixarmos que ele toque em todos os locais e em todos os lugarejos, em todos os estados e em todas as cidades, poderemos acelerar aquele dia quando todas as crianças de Deus, homens pretos e homens brancos, judeus e não judeus, protestantes e católicos, poderão dar as mãos e cantar as palavras do velho espiritual negro: “Livre afinal, livre afinal! Graças a Deus Todo-poderoso, nós somos livres afinal!”
No ano seguinte à Marcha sobre Washington, o movimento pelos direitos civis conseguiu dois dos seus maiores sucessos: a ratificação da 24a. Emenda da Constituição, que aboliu o imposto e, portanto, uma barreira para os eleitores afro-americanos pobres do Sul, e a aprovação do Ato dos Direitos Civil de 1964, que proibiu a discriminação racial no emprego e na educação e proibiu a segregação racial em estabelecimentos públicos. Em outubro de 1964, Martin Luther King, Jr., foi agraciado com o Prémio Nobel da Paz. A 4 de abril de 1968, King foi morto a tiro quando estava na varanda de um motel em Memphis, Tennessee – ele tinha 39 anos.